quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Música e Censura na Ditadura Militar Brasileira

Em 1964, a política brasileira sofreu um golpe de estado. O regime militar foi marcado por atos institucionais, perseguição, censura, a total falta de democracia e repressão àqueles que ousavam a ser contrários ao regime. As consequências dos 21 anos de chumbo foram as mais negativas possíveis. Corrupção, desigualdade, arrocho salarial, violação dos direitos humanos, tortura, assassinatos e desaparecimentos de milhares de pessoas. Até hoje, muitos não foram encontrados.

Mas vamos ao ponto da nossa prosa de hoje: a censura da arte. Melhor, da música. No final dos anos 60, a música popular brasileira tornou-se a voz do povo. Era um dos artifícios para os músicos e, consequentemente, do povo se expressarem.  As letras questionavam a situação pela qual o país estava passando e mostravam o que o governo estava fazendo. Isso incomodou e muito os militares.

Em 13 de dezembro de 1968, foi promulgado o AI-5, a fase mais sombria do regime no país, que censurou qualquer manifestação sobre assunto de natureza política. A MPB sofreu várias amputações em suas letras, quando não eram totalmente vetadas.
Afasta de mim esse cálice
A Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP) foi criada para garantir a censura da arte. Nessa censura prévia, podiam vetar por questões políticas, para "proteger" a integridade da moral e bons costumes, ou simplesmente porque não entendiam o que o autor da música quis dizer em sua letra. Simples assim. (Imaginem se eles ouvissem as letras das músicas de hoje, hein?!). Vários cantores eram vistos como inimigos da ditadura militar. Sofreram perseguição política e foram exilados.

Os perseguidos
Geraldo Vandré era um cantor e autor de grandes sucessos naquela época. A canção "Para não dizer que não falei das flores" tornou-se um hino contra o regime opressor.

Por conta da censura implantada pelo AI-5, Geraldo foi obrigado a exilar-se. Fugiu para o Chile. Logo em seguida foi para Alemanha e França. Em 1973, retornou ao Brasil, sendo severamente vigiado pelos militares, e se afastou da vida artística.  

Com Geraldo Vandré totalmente silenciado pelos militares, o inimigo da vez era Chico Buarque de Hollanda. Durante o período da censura no regime militar, Chico foi o compositor e cantor mais censurado, tanto nas canções de protesto, quanto nas que feriam os costumes morais da época. Ficou exilado na Itália por 4 anos. Depois do seu retorno ao Brasil, continuou sendo perseguido pela censura do regime militar.

Em 1970, ele escreveu a canção "Apesar de você" (que letra sensacional!) e a enviou para aprovação da censura, na certeza que seria vetada. Mas, para a surpresa geral, a música foi aprovada e virou um sucesso instantâneo. Já havia vendido mais de 100 mil cópias, quando um jornal noticiou que a letra era um protesto gritante contra o Presidente Médici. O exército, então, invadiu a fábrica da Philips, destruindo todos os discos. Só esqueceram-se de um detalhe: destruir a matriz. Gênios! (Graças ao ser supremo! Porque repito, é uma das letras mais incríveis que já vi.) 


Tropicália
O Tropicalismo foi um movimento cultural de grande importância, principalmente dentro da música. Seu fim foi marcado pelo episódio da bandeira nacional durante o último show dos Mutantes. Segundo os militares, a bandeira foi gravemente desrespeitada por Caetano Veloso e Gilberto Gil. Ainda alegaram que Caetano teria ofendido as Forças Armadas ao cantar o Hino Nacional. Isso foi mais que o suficiente para o regime militar suspender a apresentação e prender os dois cantores.
Moro num país tropical...
Caetano e Gil foram presos e exilados em Londres de 1969 até 1972, quando retornaram ao Brasil, e claro, foram perseguidos pela censura e o regime opressor. 
     
1973.  Manifestações estudantis cada vez mais violentas, devido aos desaparecimentos políticos, e a censura na música se tornava mais severa. Milton Nascimento teve seu disco "Milagre de Peixes" mutilado pela censura. Nesse mesmo ano a banda Secos & Molhados estourou nas paradas de sucesso. Ney Matogrosso, um dos componentes do grupo, foi duramente criticado por conta das suas roupas, seu timbre de voz diferente e seu rebolado. A censura alegou que seu estilo ia contra a moral e os bons costumes e proibiu que as câmeras da televisão focassem o cantor de perto (só eu vi um preconceito ai?).
Meu sangue latiiii-nooo
Gal Costa teve a capa do seu disco "Índia" censurada por ter um close frontal da cantora vestida com uma tanga minúscula, e na contracapa fotografias da mesma mostrando os seios. Raul Seixas teve 18 músicas vetadas pela censura.
Índia, a sua imagem sempre comigo vai.
Adoniran Barbosa lançou um álbum em 1973 com canções gravadas na década de 50. Teve 5 canções vetadas. Uma delas, "Tiro ao álvaro" , foi vetada porque a “falta de bom gosto” impedia a liberação da letra. Teria que virar "Tiro ao alvo". A ignorância e a falta de preparo e sensibilidade de entender um trocadilho em uma música reinavam na época.
Documento da época
Grandes nomes da MPB tiveram suas obras vetadas pelos censores. Toquinho, Tom Zé, Os Mutantes, Vinícius de Moraes, Elis Regina, Paulinho da Viola, Belchior e outros tantos, sofreram com um regime autoritário, repressivo e sim, preconceituoso. A censura passou a ser de uma total incoerência, uma perseguição doentia, sem razão e ideologia.

No último governo militar (João Figueiredo), a censura foi mais branda e menos exigente, sendo assim, as obras já eram liberadas com maior facilidade. O Brasil só se viu livre da ditadura militar em 1985. Em 1988 a Constituição Federal, votada pela a Assembleia Constituinte, extinguiu o regime militar no Brasil, aprovando a liberdade intelectual e de expressão.

O regime militar foi um período obscuro, de um passado recente e com uma história que precisa ser passada a limpo, para que nunca mais vivamos esse terror novamente. 
Viva! Viva!

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Por Rose Monteiro/Agridossiê

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