Agridossiê Convida: Gordo, Sim! - por Tiago Haka

Diariamente as pessoas gordas são bombardeadas com o discurso de que estão doentes apenas por estarem acima do peso. Enquanto isso, ser magro representa ser saudável, e mais que aceitável, é o ideal - o grande objetivo, contrastando com o desprezo e repugnância que representa estar gordo.

Todos os gordos sofrem preconceito. Todos são cobrados. Mas o machismo torna a gordofobia ainda pior para as mulheres, e quantas não acabam se submetendo a dietas extravagantes e nada saudáveis para alcançarem um padrão impossível? Para se sentirem bonitas? Quantas vezes não acabam vítimas de distúrbios alimentares? Onde está a preocupação com a saúde? Não era em nome disso a opressão? Não é.

A gordofobia causa danos muitas vezes irreparáveis a saúde de pessoas que pelos mais diversos motivos não tem facilidade ou interesse em emagrecer. Seria mais fácil aceitar que estar gordo, por si só, não é uma doença, ainda que possa ser um eventual fator de risco. E que o belo não é uma imposição a um modelo único e inalcançável. Mas a sociedade parece escolher o caminho difícil: o do preconceito e da opressão.

Meça seu preconceito, parça!

Sou gordo. Cansei de me submeter a dietas e projetos para atender uma demanda da sociedade que sequer faz sentido. Estou em processo de desconstrução e emponderamento e decidi dizer não a esta opressão que vivi desde a adolescência e ainda vivo. Cansei de me sentir mal com os olhares, de abaixar a cabeça pro preconceito, de me calar diante de tanta hostilidade. Cansei de ouvir a "opinião" alheia, de dar voz ao que me causava angústia e tristeza.

Hoje me encontro no caminho da auto-aceitação, dando um passo a cada dia, e é extremamente importante para o oprimido não se submeter ao sistema. Não compactuar com o "humor" que tem em si com base o escárnio e a chacota ao elo mais fraco de uma relação, sem questionamento da situação e sem crítica a esta relação de poder. Um "humor" barato que vive da criação de estereótipos preconceituosos. No caso da pessoa gorda, ela será sempre feia, desajeitada, burra.

O gordo é apenas gordo. E isso não é estar doente, não é ser feio. Não é uma vergonha. Não deve causar desconforto. Então escrevo isso para que se reflita e se questione esses conceitos. Para empoderação do oprimido. Não tem uma receita ou uma regra. Apenas coloca em cheque essas referências que parecem verdades e não são! Saúde não pode se tornar uma fantasia para o preconceito.

 

Tiago Haka

Por: Tiago Haka

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