Vocês conhecem o site Suicide
Girls, certo? A proposta inicial era mostrar fotos sensuais de meninas com
tatuagens, piercings, cor de cabelo e estética considerada
"alternativa". Dizem que o propósito é mostrar estilos de vida
alternativos, as personalidades de mulheres corajosas e admiráveis, como
indivíduos fortes, confiantes e com atitude, e, assim, contestar os padrões de
beleza. O que soa até interessante, se a gente não soubesse que é apenas uma
excelente descrição para explorar a pura e simples pornografia.
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Eu tenho muitas tatuagens, logo existo. |
Mas qual o problema com a
pornografia? É até empoderador tirar a roupa, mostrar para a sociedade
que a nudez não é ofensiva, não é? O problema é a forma como essa nudez é
vendida. Porque parece que ela só não é ofensiva quando se está dentro de um
padrão. "Nossa, Hell, mas olha o nome do site. As minas cometeram
"suicídio social". Elas são diferentes do padrão, são
alternativas". É mesmo? O que é ser alternativo hoje em dia? É ter
tatuagem, piercing e cabelo colorido? Sério mesmo?
Outro ponto hilário é o de
"redefinir a beleza feminina." Ah! Por favor! Basta dar uma rápida
olhada no site das SG para perceber que 95% (ou mais) das meninas que
estão ali seriam consideradas bonitas por qualquer pessoa, poderiam
facilmente posar para qualquer revista de moda. É claro, pois essa maioria tem
o padrão eurocêntrico de beleza, ou seja, nada além do inverso do que vendem.
Há poucos dias eu vi um ensaio aqui de mulheres obesas nuas. E eu inventei de ler os comentários (sempre me
arrependo quando faço isso) e o que vi foi um verdadeiro derrame de chorume.
Aquele ensaio realmente incomodou as pessoas a ponto delas exalarem ódio. As
pessoas diziam que aquilo era horrível, que o ensaio era ridículo, que
ultrapassava todos os limites, pediram para tirar do ar e daí pra baixo. Vejam,
eram mulheres obesas sendo fotografadas nuas. Com seios, barriga e celulite à
mostra. E aquilo incomodou de um tanto as pessoas, principalmente homens, a
ponto deles sentirem nojo.
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Migas, vocês estão gordas. Aqui só pode magrinha. Mas é que a gente defende a beleza diferente. |
Isso é o transgressor para
mim. Porque as pessoas são tão bitoladas em seguir e manter o padrão, que qualquer
coisa que fuja a isso se torna motivo de ódio. Para mim, a arte tem sim que
incomodar, senão vira nada mais que um ensaiozinho comum e fútil que dita como
você deve ser.
Portanto, se você acha muito
transgressor a mocinha magra, branca, cheia de tatuagens e piercings posando
nua, saiba que ela só está sendo mais uma pecinha no muro. Isso pode ter sido
transgressor há algumas décadas. Desconfio até que a beleza esteja associada à
novidade. Hoje este tipo de ensaio não passa de reforçador de estereótipos que
permanece a objetificar a mulher.
E sabem por que objetifica? Os
mesmos que exaltam a beleza destas mulheres, são os que as chamam de “vadias,
putas e que só servem pra comer”, desrespeitam e criticam como nada além de
meros pedaços de carne prontas a serem consumidas. Critica-se a MORAL das
moçoilas.
E o SG consegue vender sua
ideia de maneira tão eficaz que a cada dia sua popularidade aumenta. São meninas
ansiosas para serem consideradas "bonitas", "de atitude" e
"únicas". O que é uma falsa ideia de libertação, já que uma mulher
realmente confiante não precisa de exposição online para receber aplausos
virtuais e reafirmar - com base em opiniões do tipo "gostosa" - que
realmente é sexy, sensual e "de atitude".
Engolem uma falsa ideia de
"liberação sexual" das mulheres, que não é nada mais que um feminismo
disfarçado de machismo (aliás, esse é o único momento que vejo os homens
gritando: "Liberem-se, mulheres!"). Como podemos conseguir fazer a
sociedade parar de nos olhar como meros objetos sexuais atuando como... objetos
sexuais? Isso é realmente liberdade?
É uma armadilha muito grande
que as meninas caem. Eu até creio entender: as vezes, a insegurança e carência delas
é tão grande que elas acham que vão curar, mesmo que superficialmente, com os
comentários alheios. Elas não veem que a mudança vem de dentro. Então é muito
mais fácil investir em artifícios físicos do que se conhecer, e alimentar o
intelecto com novos conhecimentos e opiniões.
Enfim, por décadas mulheres
lutaram para se alcançar a igualdade de gênero, diminuindo o machismo que nos
deu valor algum senão como meros pedaços de carne. Uma luta para sermos
respeitadas como pessoas, por nossas mentes e nossos valores éticos, e não
apenas como ornamentos.
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Hummm... rosinha, do jeito que eu gosto! |
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Mim deixa, são meus 15 segundos de fama! |
Lutou-se inclusive para que
mulheres pudessem expressar sua livre sexualidade. Liberdade, a meu ver, é
desconstruir, abalar padrões - neste caso, os de beleza, mas no SG, só pode
haver nudez se o objeto for bem definido. Onde pode haver liberdade onde o corpo
é minuciosamente criticado: se ela não estiver dentro de um padrão eurocêntrico
de beleza, ela é considerada lixo, não pode posar. Porque mulheres, afinal, só
servem para enfeitar. Analisam até a cor do mamilo e do ânus! Liberdade imposta
não é liberdade, é opressão.
Liberdade é afrontar o que é esperado. Mas no SG, espera-se que a mulher seja de tal maneira, pose de tal forma, seja de tal padrão. Tudo muito bem definido. Como eu disse, há uma década era afronta. Hoje, as minas que cometeram “suicídio social” não passam de pseudo-pinups decadentes. Está na hora de mudarem de nome.
"A maior beleza está no corpo livre, desinibido em seu jeito de ser, gracioso porque todo ser vivo é gracioso quando não vive oprimido e com medo. É a livre expressão de nossos humores, desejos e odores; é o fim da culpa e do medo que sentimos pela nossa sensualidade natural; é a conquista do direito e da coragem a uma vida afetiva mais satisfatória; é a liberdade, a ternura e a autoconfiança que nos tornarão belas. É essa a beleza fundamental.” - Maria Rita Kehl
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