Em 1964, a política brasileira sofreu um golpe de estado. O regime
militar foi marcado por atos institucionais, perseguição, censura, a total falta
de democracia e repressão àqueles que ousavam a ser contrários ao regime. As
consequências dos 21 anos de chumbo foram as mais negativas possíveis.
Corrupção, desigualdade, arrocho salarial, violação dos direitos humanos,
tortura, assassinatos e desaparecimentos de milhares de pessoas. Até hoje,
muitos não foram encontrados.
Mas vamos ao ponto da nossa prosa de hoje: a censura da
arte. Melhor, da música. No final dos anos 60, a música popular brasileira
tornou-se a voz do povo. Era um dos artifícios para os músicos e,
consequentemente, do povo se expressarem.
As letras questionavam a situação pela qual o país estava passando e
mostravam o que o governo estava fazendo. Isso incomodou e muito os militares.
Em 13 de dezembro de 1968, foi promulgado o AI-5, a fase
mais sombria do regime no país, que censurou qualquer manifestação sobre
assunto de natureza política. A MPB sofreu várias amputações em suas letras, quando
não eram totalmente vetadas.
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Afasta de mim esse cálice |
A Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP) foi criada para garantir a
censura da arte. Nessa censura prévia, podiam vetar por questões políticas,
para "proteger" a integridade da moral e bons costumes, ou
simplesmente porque não entendiam o que o autor da música quis dizer em sua
letra. Simples assim. (Imaginem se eles
ouvissem as letras das músicas de hoje, hein?!). Vários cantores eram
vistos como inimigos da ditadura militar. Sofreram perseguição política e foram
exilados.
Os perseguidos
Geraldo Vandré era um cantor e autor de
grandes sucessos naquela época. A canção "Para não dizer que não falei das
flores" tornou-se um hino contra o regime opressor.
Por conta da censura implantada
pelo AI-5, Geraldo foi obrigado a exilar-se. Fugiu para o Chile. Logo em
seguida foi para Alemanha e França. Em 1973, retornou ao Brasil, sendo
severamente vigiado pelos militares, e se afastou da vida artística.
Com
Geraldo Vandré totalmente silenciado pelos militares, o inimigo da vez era Chico
Buarque de Hollanda. Durante o período da censura no regime militar, Chico foi
o compositor e cantor mais censurado, tanto nas canções de protesto, quanto nas
que feriam os costumes morais da época. Ficou exilado na Itália por 4 anos.
Depois do seu retorno ao Brasil, continuou sendo perseguido pela censura do
regime militar.
Em 1970, ele escreveu a
canção "Apesar de você" (que
letra sensacional!) e a enviou para aprovação da censura, na certeza que
seria vetada. Mas, para a surpresa geral, a música foi aprovada e virou um
sucesso instantâneo. Já havia vendido mais de 100 mil cópias, quando um jornal
noticiou que a letra era um protesto gritante contra o Presidente Médici. O
exército, então, invadiu a fábrica da Philips, destruindo todos os discos. Só esqueceram-se
de um detalhe: destruir a matriz. Gênios! (Graças
ao ser supremo! Porque repito, é uma das letras mais incríveis que já vi.)
Tropicália
O Tropicalismo foi um movimento cultural
de grande importância, principalmente dentro da música. Seu fim foi marcado
pelo episódio da bandeira nacional durante o último show dos Mutantes. Segundo
os militares, a bandeira foi gravemente desrespeitada por Caetano Veloso
e Gilberto Gil. Ainda alegaram que Caetano teria ofendido as Forças
Armadas ao cantar o Hino Nacional. Isso foi mais que o suficiente para o regime
militar suspender a apresentação e prender os dois cantores.
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Moro num país tropical... |
Caetano e Gil foram presos e
exilados em Londres de 1969 até 1972, quando retornaram ao Brasil, e claro,
foram perseguidos pela censura e o regime opressor.
1973. Manifestações estudantis cada vez mais
violentas, devido aos desaparecimentos políticos, e a censura na música se
tornava mais severa. Milton Nascimento teve seu disco "Milagre de Peixes"
mutilado pela censura. Nesse mesmo ano a banda Secos & Molhados estourou
nas paradas de sucesso. Ney Matogrosso,
um dos componentes do grupo, foi duramente criticado por conta das suas roupas,
seu timbre de voz diferente e seu rebolado. A censura alegou que seu estilo ia
contra a moral e os bons costumes e proibiu que as câmeras da televisão
focassem o cantor de perto (só eu vi um preconceito
ai?).
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Meu sangue latiiii-nooo |
Gal Costa teve a capa do seu disco
"Índia" censurada por ter um close frontal da cantora vestida com uma
tanga minúscula, e na contracapa fotografias da mesma mostrando os seios. Raul
Seixas teve 18 músicas vetadas pela censura.
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Índia, a sua imagem sempre comigo vai. |
Adoniran Barbosa lançou
um álbum em 1973 com canções gravadas na década de 50. Teve 5 canções vetadas.
Uma delas, "Tiro ao álvaro" , foi vetada porque a “falta de bom gosto”
impedia a liberação da letra. Teria que virar "Tiro ao alvo". A ignorância
e a falta de preparo e sensibilidade de entender um trocadilho em uma música
reinavam na época.
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Documento da época |
Grandes nomes da MPB tiveram
suas obras vetadas pelos censores. Toquinho, Tom Zé, Os Mutantes, Vinícius de Moraes, Elis Regina, Paulinho da Viola, Belchior e outros tantos, sofreram com um regime
autoritário, repressivo e sim, preconceituoso. A censura passou a ser de uma
total incoerência, uma perseguição doentia, sem razão e ideologia.
No último governo militar (João
Figueiredo), a censura foi mais branda e menos exigente, sendo assim, as obras
já eram liberadas com maior facilidade. O Brasil só se viu livre da ditadura
militar em 1985. Em 1988 a Constituição Federal, votada pela a Assembleia Constituinte,
extinguiu o regime militar no Brasil, aprovando a liberdade intelectual e de
expressão.
O regime militar foi um período
obscuro, de um passado recente e com uma história que precisa ser passada a
limpo, para que nunca mais vivamos esse terror novamente.
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Viva! Viva! |
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Por Rose Monteiro/Agridossiê
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