quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Sobre Mitos Feministas e Liberdade

Há poucos dias me vi fazendo um julgamento de uma moça do qual me envergonhei absurdamente depois. O que era o julgamento não vem ao caso, mas gostaria de expor algumas ideias para vocês. Eu tento defender diariamente em cada conversa que tenho, liberdade de escolha e respeito ao próximo. E eu tento, porque não é fácil não se deixar levar pela nossa sociedade, pelo julgamento alheio, pelos padrões que são impostos como únicos e verdadeiros. E eu tento porque quase sempre fico na dúvida entre ser a calada-que-concorda-com-tudo ou a chata-que-defende-ideias e mostra o quão preconceituoso e machista pode ser aquele julgamento da pessoa. Quase sempre pensamos que não somos influenciados pelo meio, pelas companhias, que nossas ideias são originais e pimba! De repente me vi caída em uma tremenda armadilha preconceituosa. Então resolvi escrever este texto como um desabafo para mim mesma, e também para sempre voltar quando estiver prestes a me deixar levar pelo pensamento dominante, o que, mais uma vez digo, não é fácil.  

Vocês concordam que homens e mulheres devem ser tratados com os mesmos direitos? Ótimo. E que ambos devem ter liberdade de escolha e ser respeitados por essas escolhas da mesma forma? Melhor ainda. Estou cansada de ler lugares comuns de "essas feministas isso, essas feministas aquilo". Pessoas, ISTO é feminismo. Feminismo não é um conjunto de regras que quer ditar ou não o que homens ou mulheres devem fazer. Feminismo é o pensamento da liberdade. Não acredita? Então me segue aqui.
Há uma imposição constante sobre como uma mulher deve se vestir. Sobre como o corpo da mulher deve ser. Sobre com quem e como uma mulher deve transar. Sobre como uma mulher deve parir. Não deveríamos pensar apenas que cada uma deve ser livre para decidir e sem ser julgada por isso?

Se uma mulher que sair de mini-saia, por que um homem se acha no direito de posse sobre o corpo dela? De invadir sua privacidade? De dizer frases que a fazem se sentir julgada, humilhada? Andar na rua virou sinônimo de desfilar na passarela? Com mil olhares e câmeras filmando o tempo inteiro, julgando nosso corpo? Não!

Se uma mulher decide não se depilar, por que julgá-la? Feminismo não é imposição de que todas as mulheres não devem se depilar. Feminismo é, mais uma vez, sobre liberdade de escolha. Depila quem quer, desde que se sinta bem e não o faça apenas por imposição de uma sociedade que diz que pelos são sujos, feios e blá blá blá. Se assim fosse, por que os pelos dos homens também não seriam?

Se uma mulher quer malhar até ficar musculosa, enorme como o Conan, se ela se sente bem estando acima do peso, se ela quer ser magra como a Olívia do Popeye, por que julgá-la? A crítica feminista está apenas na imposição de um ideal de beleza, muitas vezes inatingível, que aliena tantas mulheres para alcançar aquele ideal, não enxergando beleza em si próprias, ficando doentes mentalmente e, consequentemente, infelizes com suas próprias vidas. É muito, muito cruel.

Se uma mulher quer se manter virgem até o casamento, se ela quer transar com mil homens por ano, por que devemos julgá-la? Se ela quer dar de quatro, se ela quer se masturbar, se ela quer gozar, ser amarrada ou simplesmente se resguardar de sexo, qual o problema? Por que ela será a piriguete? Por que julgá-la mal quando vivemos em uma sociedade que sempre tratou a mulher como objeto de procriação e para dar prazer ao homem sem sentir o mesmo "porque é pecado", quando a mulher admirada é a virgem imaculada que cuida dos filhos e que não tem vontade própria? Feliz seríamos muito mais se vivêssemos em uma livre sociedade em que homens e mulheres pudessem fazer sexo sem dogmas, desde que fosse consensual, com segurança e gostoso para ambos, hã? 
Se uma mulher deseja se casar, seja com homem, seja com mulher, se deseja permanecer solteira ou viver poliamores, que assim seja! Se ela quer ser dona de casa e cuidar dos filhos ou se ela quer investir na carreira profissional e decidir não ter filhos, qual o problema? Desde que ser dona de casa e cuidar dos filhos não seja uma obrigação e ela se sinta bem, tá tudo certo. Porque sim, ainda somos mil vezes julgadas com o pensamento de que uma mulher só é completa se casar, se tiver filhos. E é claro que elas irão atrás disso mesmo que vivam de maneira completamente infeliz. Se ela resolve investir na carreira profissional e abdica da maternidade, é como se nenhuma de suas capacitações tivesse importância... apenas os filhos. E se ela deseja ter filhos e ter parto normal ou cesariana, também não é direito de ninguém julgá-la. Mesmo sabendo de nossa cultura de cesárea e imposição médica por ser mais "prático", o corpo é dela, quem irá decidir o que é melhor para si, única e exclusivamente deverá ser ela. 

E, caso ela deseje abortar, também deve ter livre escolha. O aborto é proibido e isso não impede que muitas façam. Isso não impede que muitas morram, principalmente aquelas mais pobres. Ser a favor da descriminalização do aborto não significa obrigar toda e qualquer mulher a realizá-lo, mas sim, oferecer condições seguras para que mulheres possam fazê-lo, é uma questão de saúde pública. Ninguém além da própria mulher deve impor regras sobre o útero dela. Ninguém.

Como eu disse, não é fácil fortalecer todas estas e várias outras questões em mente. Vez ou outra vejo mulheres julgando umas às outras, entrando em rixa por julgamentos machistas. Não devemos culpar ninguém individualmente porque somos sim produto do meio. Cada ser é um mundo e mesmo dentro do feminismo há ideias desde as mais radicais até as mais amenas. O que penso é que não será com imposição de pensamentos que conseguiremos promover alguma mudança. Não é sendo rasa, julgando alguém com meus moralismos que conseguirei que alguém me escute. O feminismo incomoda, é difícil abrir mão das rédeas a que fomos acostumadas a vida inteira, sair da posição de privilégio, de seguir o que é amplamente aceito. Já sofri agressões e distanciamentos por defender o que penso, o que me chateou bastante. 
Mulheres, uni-vos.
São inúmeros os mitos sobre feministas espalhados por aí, mas feminismo mesmo é sobre liberdade, é sobre quebra de padrões. Muitas mulheres sofreram e morreram para que pudéssemos alcançar o patamar que estamos hoje. Se hoje podemos estudar, votar, trabalhar, optar por não ter filhos, fazer sexo por prazer, etc, foi porque muitas lutaram lá atrás para termos esses privilégios. Mas ainda não é o ideal. 

Ainda existem mulheres sendo agredidas, estupradas, assassinadas, reprimidas e caladas por simplesmente serem mulheres, por viverem em uma sociedade construída por homens, para privilegiá-los e facilitar suas vidas. E, sinceramente, por que um homem que não engravida e não tem útero, se acha no direito de apontar o dedo para mim e dizer o que devo fazer ou não com o meu? Por que pessoas que não sabem das minhas lutas diárias como mulher devem ditar a maneira correta como tenho que agir? 
Ninguém é totalmente livre, somos sempre influenciados pelos padrões de mídia e culturais à nossa volta. Mas se concordamos em defender a liberdade para que possamos viver de forma mais igualitária, não deixamos de ser feministas. Se não nos calamos, não somos condizentes com todos esse preconceito vil que existe por aí, começamos a caminhar na estrada certa. E sim, o caminho é ainda muito árduo e longo. O importante é não desistirmos de lutar. E quanto mais nos unirmos, mais fortes seremos.

"...Ela é livre, mas é tão livre que um dia será presa!
Mas presa por que?
Por excesso de liberdade.
Mas essa liberdade é inocente?
É!
Então por que a prisão?
Por que a liberdade ofende..."

Essa frase é da Clarice em "Um Sopro de Vida" e ah! Que possamos todas ser livres!
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Por Hellen Cristine/ Agridossiê

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